O teólogo alemão Paul Tillich representa um dos grandes nomes do pensamento moderno. Sua contribuição acadêmica não se restringiu apenas ao âmbito religioso, mas perpassou outros ambientes até ser considerado um dos excelentes e influentes pensadores do século XX. Uma de suas contribuições mais relevantes foi o desenvolvimento da Teologia da Cultura, que possibilitaria um diálogo entre Teologia e Cultura Geral. Tillich percebeu que as produções culturais revelavam um anseio e questionamento humano frente ao verdadeiro sentido da existência. Esses anseios também poderiam ser caracterizados como religiosos, pois estão relacionados à busca da origem de tudo, o sentido último da realidade. Esta característica “aproxima” a cultura do espírito religioso, visto que a religião em Tillich é o estado do ser humano quando tocado pelo anseio de compreender o sentido de sua própria existência. Em outras palavras, a cultura é substancialmente religiosa pelo fato de possuir em seu fundamento uma preocupação última assim como a religião.
Partindo desse pressuposto, a idéia de uma Teologia da Cultura passa a ser possível, visto que o campo hermenêutico não está mais restrito a religião ou a manifestações exclusivamente religiosas, mas é ampliado a qualquer manifestação humana legítima, ainda que não sustente o título de “sacra” ou religiosa. Obviamente, uma das manifestações culturais mais expressivas é a arte, o que faz dessa esfera um campo religioso rico, capaz de abrir espaço para uma relação entre cultura e teologia. Através do pensamento tillichiano, podemos considerar que o dualismo simplista entre arte secular e religiosa não é tão óbvio quanto à carga da tradição fez parecer por muito tempo em alguns ambientes religiosos, em especial no contexto evangélico brasileiro. O distanciamento de alguns grupos religiosos das produções artísticas populares e seus respectivos autores é um fato. Quando a arte não obedece a um padrão religioso que condiz com aquele que já está estabelecido como certo, logo é taxado por estes grupos como inconveniente, pecaminoso ou até demoníaco.
A questão é se existe a possibilidade da teologia dialogar com a arte a ponto de se beneficiar dela como fonte de inspiração diante do sagrado, ainda que ela não se proponha explicitamente a isso. Seria possível a partir de um aparato teológico sério criar uma aproximação saudável do indivíduo religioso com a comumente denominada “arte secular” ou “arte do mundo”? É possível conceber a idéia de que não é só a arte sacra que tem o poder de elevar o ser humano a um encontro com o sagrado?
Por causa destes questionamentos e outros, o teólogo Paul Tillich deve ser considerado nas discussões sobre arte e fé cristã.
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